segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre a peça "Bença" , inspirações para a pesquisa e prática pedagógica


Olá querid@s!

Ontem vi em Salvador-BA a Peça de teatro "Bença" com o Bando de teatro Olodum. Maravilhosa! Vejam fotos capturadas pelo meu ifone. O espetáculo discutia a noção de tempo a partir do olhar de pessoas idosas, gente do axé, intelectuais, artistas, pessoas de mais variados cotidianos. Como não podemos separar conteúdo de forma, compartilho com vocês a forma que me chamou bastante atenção. Afinal ler não é só decodificar o significante, mas é, também, relacioná-lo com nossa história de leitura e a nossa implicação com nossos sentidos mais presentes e cotidianos.


A forma do espetáculo é a mixagem e a multimídia. Por que não tocar também no hipertexto? Mixagem, por conta da mistura de linguagens. Multimídia, pelas interconexões de mídias. O teatro fazendo convergências. Dois telões (um na extrema direita e outro na externa esquerda na sala da arena) bricolavam imagens de arquivos e de entrevistas (com relatos de pessoas idosas sobre o tema do tempo, da ancestralidade, da morte-vida) com imagens capturadas ao vivo (do público na arena e dos atores em cena).

Os atores conduziram o roteiro de com falas simultâneas e síncronas. O protagonismo se deslocava o tempo inteiro entre os atores. Enquanto uns atuavam com falas e interações, outros capturavam com câmeras de vídeo (semi-profissionais as imagens in loco), outros tocavam instrumentos, outros assumiam o microfone principal. Todos os atores vivenciaram grande parte dos papéis. Esta dinâmica no palco central da arena cocriava com o que passava nos telões. No canto esquerdo do teatro dois operadores de som e imagem. Reparei que usavam tecnologia MAC! Juntando tecnologia de ponta com uma bela acústica do teatro tivemos uma imersão sonora fantástica. Isso sem contar com os sons do axé que me tocam profundamente... Isso só sendo baiano ou afrodescendente para entender...

"Tudo junto e misturado". Nossos sentidos foram acionados o tempo todo por simultâneos convites, permitindo que cada espectador construísse sua própria narrativa, algo inovador para o teatro (que fora o teatro do oprimido do Augusto Boal, ainda insiste em capturar a audiência numa única narrativa). Foi curioso observar o público. Pescoços movimentando-se o tempo todo e olhos buscando e capturando um fio para tecer uma ou alguma narrativa. Esforço cognitivo diferente para quem espera um teatro para assistir uma cena única. Quem foi esperando isso se surpreendeu, ou com a novidade da forma, ou com a decepção da novidade. Eu adorei pelo primeiro motivo.

E os figurinos...Queria um vestido daquele para mim!!!


Faltou a liberação dos corpos. Ainda estávamos com nossos corpos sentados na cadeira em posição de contemplação. Mas os sentidos a mil buscando a fio para entender a história por nossa própria autonomia.

O mais incrível é que o roteiro completo do espetáculo veio como anexo do catálogo (que custa apenas 5,00). O catálogo mostra a linha de tempo do "teatro negro" na BA via espetáculos do Villa Velha. Adoro este teatro que fica no Passeio Público um lugar lindo , que por sinal não encontra-se conservado. O espaço externo tá meio caidinho...Mas continua charmoso!

O roteiro apresenta-se em colunas com toda marcação do formato do espetáculo. Textos organizados por ator, mixagem dos vídeos gravados com os produzidos in loco, música. Enfim, a teia da rede que se propunha forma em cena. Até para quem já conhece a dinâmica de roteirização é interessante. Eu que trabalho com produção de conteúdo digital em sala de aula presencial ou online , na graduação e na pós, gostei de ter mais este case para socializar e analisar com meus alunos e orientandos. Afinal, é preciso planejar as ações e as produções.

Mesmo sabendo que muitos acham chato e dizem que planear é coisa de "pedagogo", isso para não fazer outro trocadilho... Mas sem organizar a materialidade da ação fica tudo complicado, mesmo quando o objetivo é fazer complexidade, hipertextualidade. Como diz Morin "programa com estratégia podem dialogar".


O espetáculo é um exemplo de que a inovação (tecnologias contemporâneas , uso de Mac e digital) pode convivem com a tradição (narrativas, memórias, mídias clássicas) potencializando autorias e experiências plurais. Vejam algumas fotos . Quem estiver em Salvador ou passando por lá, vale a pena vivenciar a experiência, até para refletir um pouco sobre esta noção complexa do que é o "tempo".

Por que narrar aqui ? Gostaria de trocar figurinhas com os colegas pesquisadores e estudiosos da "Cultura Digital" e da "Educação e Comunicação".

Como seria uma sala de aula e uma experiência de pesquisa inspirada na peça Bença?

Que aprendizagens poderiam turbinar a nossa prática de ensino e pesquisa?

Desejando interagir um pouco mais com os amigos desta rede...

Bjs

Mea

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Só de ler o que você escreveu já me deu uma vontade enorme de assistir. Lendo, me sentir voltando ao curso do Moodle, onde falamos muito sobre hipertexto, hipermídia, interconexões... Foi muito interessante. Continue postando comentários assim, pois, além de ampliar o nosso conhecimento, propaga de forma positiva o quê que a "Bahia" tem.
Foi legal mesmo.
Bjs.

Denise Sodré

Unknown disse...

Viu como memória, narrativas e contemporaneidade podem "ir juntos"? Será que vêm para o Rio? Beijos Nilda

Méa Online disse...

Olá Nilda!

Poderíamos trazer a "Bença" para o Redes. Seria incrível!
[]s
Méa